Há muitos anos, comprei um caderno espiral. O que conteria? Uma lista dos livros lidos por mim. Um a um, fui anotando livros e respectivos autores, linha a linha. Do meio para o fim, anoto frases, fragmentos, pensamentos que definem a obra e que me marcaram. Carrego-o comigo para onde vou. Creio que estejamos juntos há uns trinta (sim, trinta!) anos. Nas primeiras páginas, escrevo os endereços das casas em que vivi. A capa já esteve arruinada e eu corri para reencaderná-lo. As folhas estão amarelecidas, marcadas pelo tempo e pelo uso. Perdi de anotar livros que li ainda bem menina, acabei me esquecendo. Mas, agora, segundo conta meu - vamos chamar assim - Diário de Leitura, estou lendo o 668º livro. É muito? Pouco, para 47 anos de vida? Não sei. É muito mais do que minhas obrigações permitiriam e bem menos do que gostaria de ter lido.
Percorrendo as linhas de livros, encontro meu passado: livros da época da faculdade, alguns emprestados por uma amiga que nem sei mais onde anda, os bestsellers, o festival de literatura brasileira, portuguesa, latinoamericana, os livros que precisei ler em momentos depressivos, os que li para entender melhor meus filhos... Nesta longa lista, vou-me enxergando como se houvesse um espelho costurado nas páginas deste simples caderno. Alegria maior foi, um dia, poder escrever em uma das linhas, o título do meu próprio livro. Salta aos olhos a diferença das letras, dos meus dezoito anos até agora. E o ecletismo dos livros. Há Hermann Hesse, Érico Veríssimo, J. M. Simmel, Clarice Lispector, José Saramago, Graciliano Ramos, Mia Couto, Og Mandino, Fernando Morais, Isabel Allende, Jorge Amado, Eça, Chico Buarque, Rosamunde Pilcher... e tantos, tantos outros.
Às vezes, assalta-me uma questão: o que farão deste caderno, quando eu morrer? Pra quem servirá este caderno? Pra que servirá este caderno? Um percurso de leitura é único, próprio, como a vida. Talvez faça um testamento (testamento não existe somente em novela?) para que seja sepultada com meu caderno. Um dia, seremos, eu e ele, das mesmas cinzas e do mesmo pó... leitor e leitura enfim unidos num mesmo fim.
Deste meu caderno, um belo fragmento de Paula, de Isabel Allende:
"Há um momento em que já não se pode deter a viagem iniciada, rolamos em direção a uma fronteira, passamos através de uma porta misteriosa e amanhecemos do outro lado, em outra vida. A criança entra no mundo, e a mãe, em outro estado de consciência, nenhuma das duas volta a ser a mesma. (...) O processo alegre de gerar um filho, a paciência na gestação, a força para trazê-lo à vida e o sentimento de profundo assombro em que isso culmina só podem ser comparados à criação de um livro. Os filhos, como os livros, são viagens ao nosso interior, nas quais o corpo, a mente e a alma inventam seus rumos, regressando ao próprio centro da vida."
Querida sobrinha...sempre que abro seu Blog quero postar minha impressão sobre o que li
ResponderExcluirmas não consigo! Ou ainda não aprendi rs.
Mas, vamos lá!!!
Tudo o que leio me enche os olhos e a alma! Sinto tudo tão conhecido, tão próximo!!!
Conheço, de tão longa data, este seu caderno de anotaçôes!
Também tenho o meu e ele me é tão íntimo, quase que como uma pessoa estimada!
Também já fiz uma relação dos meus livros lidos.Tenho muitos anos à sua frente, mas li a exata metade do que vc. já leu!!! Exatamente 315 livros...
Sempre soube que vc. é mais afoita que eu, ou...mais letrada!!!
De qualquer forma, estou ainda por aqui e continuo lendo menos, mas SEMPRE!!!!!
Com carinho e admiração.
Tia Lena.