domingo, 5 de junho de 2011

POEMA ANTIGO

Em suas mãos entrego o meu corpo –
Inerte e obediente – para a cura,
Das minhas feridas, a mais profunda.
Rolam na vidraça as gotas de chuva
Escorrem no meu rosto gotas de sal
Por sorte, a morte não quis me levar
Por sorte, há árvores que eu posso enxergar
E tantas folhas, tantas folhas
Apesar de ser outono
Apesar do sono em que meus lábios
Não tardaram a entrar
Na ponta dos seus dedos
Brilham as manchas escarlates da vida
Na ponta de seus dedos
O fio da sutura
A linha que costura
Meus olhos no seu olhar
Manso cavalheiro branco
Cicatriza a chaga
Que feriu de morte o coração de meu pai
Abre outra ferida – benigna –
Que eu não ouso querer fechar.

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