Oito de março. Dia da Mulher. Ofereço às mulheres que estão ligadas a este blog minha melhor leitura: o livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Sei o quanto é difícil elegermos um livro como o melhor que lemos. Cada livro é uma experiência única e definitiva. Mas, há algum tempo, tenho dito que este livro é o melhor dos que já li. Sinto como se tivesse um encontro marcado com ele, durante toda a vida. E que, finalmente, li o que vivia, sentia, sofria, buscava...
A autora, analista junguiana e escritora norte-americana, é descendente de mexicanos e revela em sua escrita fortes traços da cultura ameríndia, principalmente no que se refere aos mitos, aos arquétipos e suas interpretações. Neste livro, seu primeiro, Clarissa nos brinda com uma bela teoria, a da Mulher Selvagem.
Assim ela começa:
“A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção.
Observamos, ao longo dos séculos, a pilhagem, a redução do espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina. Durante longos períodos, ela foi mal gerida, à semelhança da fauna silvestre e das florestas virgens. Há alguns milênios, sempre que lhe viramos as costas, ela é relegada às regiões mais pobres da psique. As terras espirituais da Mulher Selvagem, durante o curso da história, foram saqueadas ou queimadas, com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros.”
Clarissa afirma que as mulheres possuem uma natureza instintiva forte e perfeita, que elas abandonam em troca de (falsa) segurança e (pseudo) amor. Quando estamos em sintonia com esta nossa natureza, sabemos o que é bom para nós, cuidamos de nosso corpo, de nossa vida, de nossas crias, com energia e acerto, como fazem os lobos.
Assim:
“Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Têm experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem.”
Em seiscentas e quatorze páginas, Clarissa conta histórias e nos convida ao encontro com a Mulher Selvagem, a segurar suas mãos, a confiar e ter orgulho de suas decisões em nossa vida.
“E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quando do oculto – ela é a base. (...)
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.
Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, “Por aqui, por aqui.”
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. (...) Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus pensamentos.
(...) Onde se pode encontrá-la? Ela caminha pelos desertos, bosques, oceanos, cidades, nos subúrbios e nos castelos. Ela vive entre rainhas, entre camponesas, na sala de reuniões, na fábrica, no presídio, na montanha da solidão. Ela vive no gueto, na universidade e nas ruas. Ela deixa pegadas para que possamos medir nosso tamanho. Ela deixa pegadas onde quer que haja uma única mulher que seja solo fértil.”
Que nós mulheres sejamos, hoje e em todos os dias, solo fértil para o encontro com a Mulher Selvagem.
Com carinho.
Eliana Maciel
Eliana,
ResponderExcluira descrição que fez de "Mulheres que correm com os lobos"foi muito instigante.
Tudo indica que seja um livro realmente marcante.Me deixou curiosa por encontrar com a "mulher selvagem" que existe dentro de cada uma de nós.
Já está na minha lista.
Beijo e Feliz dia da Mulher!!