terça-feira, 8 de março de 2011

A MULHER SELVAGEM

Oito de março. Dia da Mulher. Ofereço às mulheres que estão ligadas a este blog minha melhor leitura: o livro Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola Estés. Sei o quanto é difícil elegermos um livro como o melhor que lemos. Cada livro é uma experiência única e definitiva. Mas, há algum tempo, tenho dito que este livro é o melhor dos que já li. Sinto como se tivesse um encontro marcado com ele, durante toda a vida. E que, finalmente, li o que vivia, sentia, sofria, buscava...
A autora, analista junguiana e escritora norte-americana, é descendente de mexicanos e revela em sua escrita fortes traços da cultura ameríndia, principalmente no que se refere aos mitos, aos arquétipos e suas interpretações. Neste livro, seu primeiro, Clarissa nos brinda com uma bela teoria, a da Mulher Selvagem.
Assim ela começa:
“A fauna silvestre e a Mulher Selvagem são espécies em risco de extinção.
Observamos, ao longo dos séculos, a pilhagem, a redução do espaço e o esmagamento da natureza instintiva feminina. Durante longos períodos, ela foi mal gerida, à semelhança da fauna silvestre e das florestas virgens. Há alguns milênios, sempre que lhe viramos as costas, ela é relegada às regiões mais pobres da psique. As terras espirituais da Mulher Selvagem, durante o curso da história, foram saqueadas ou queimadas, com seus refúgios destruídos e seus ciclos naturais transformados à força em ritmos artificiais para agradar os outros.”
Clarissa afirma que as mulheres possuem uma natureza instintiva forte e perfeita, que elas abandonam em troca de (falsa) segurança e (pseudo) amor. Quando estamos em sintonia com esta nossa natureza, sabemos o que é bom para nós, cuidamos de nosso corpo, de nossa vida, de nossas crias, com energia e acerto, como fazem os lobos.
Assim:
“Os lobos saudáveis e as mulheres saudáveis têm certas características psíquicas em comum: percepção aguçada, espírito brincalhão e uma elevada capacidade para a devoção. Os lobos e as mulheres são gregários por natureza, curiosos, dotados de grande resistência e força. São profundamente intuitivos e têm grande preocupação para com seus filhotes, seu parceiro e sua matilha. Têm experiência em se adaptar a circunstâncias em constante mutação. Têm uma determinação feroz e extrema coragem.”
Em seiscentas e quatorze páginas, Clarissa conta histórias e nos convida ao  encontro com a Mulher Selvagem, a segurar suas mãos, a confiar e ter orgulho de suas decisões em nossa vida.
“E então, o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da psicologia arquetípica, bem como pela tradição das contadoras de histórias, ela é a alma feminina. No entanto, ela é mais do que isso. Ela é a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto do mundo visível quando do oculto – ela é a base. (...)
Ela é a força da vida-morte-vida; é a incubadora. É a intuição, a vidência, é a que escuta com atenção e tem o coração leal. Ela estimula os humanos a continuarem a ser multilíngües: fluentes no linguajar dos sonhos, da paixão, da poesia. Ela sussurra em sonhos noturnos; ela deixa em seu rastro no terreno da alma da mulher um pêlo grosseiro e pegadas lamacentas. Esses sinais enchem as mulheres de vontade de encontrá-la, libertá-la e amá-la.
Ela é idéias, sentimentos, impulsos e recordações. Ela ficou perdida e esquecida por muito, muito tempo. Ela é a fonte, a luz, a noite, a treva e o amanhecer. Ela é o cheiro da lama boa e a perna traseira da raposa. Os pássaros que nos contam segredos pertencem a ela. Ela é a voz que diz, “Por aqui, por aqui.”
Ela é quem se enfurece diante da injustiça. Ela é a que gira como uma roda enorme. É a criadora dos ciclos. É à procura dela que saímos de casa. É à procura dela que voltamos para casa. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que chegamos ao fim. (...) Ela é a mente que nos concebe; nós somos os seus pensamentos.
(...) Onde se pode encontrá-la? Ela caminha pelos desertos, bosques, oceanos, cidades, nos subúrbios e nos castelos. Ela vive entre rainhas, entre camponesas, na sala de reuniões, na fábrica, no presídio, na montanha da solidão. Ela vive no gueto, na universidade e nas ruas. Ela deixa pegadas para que possamos medir nosso tamanho. Ela deixa pegadas onde quer que haja uma única mulher que seja solo fértil.”
Que nós mulheres sejamos, hoje e em todos os dias, solo fértil para o encontro com a Mulher Selvagem.
Com carinho.
Eliana Maciel

Um comentário:

  1. Eliana,

    a descrição que fez de "Mulheres que correm com os lobos"foi muito instigante.
    Tudo indica que seja um livro realmente marcante.Me deixou curiosa por encontrar com a "mulher selvagem" que existe dentro de cada uma de nós.
    Já está na minha lista.
    Beijo e Feliz dia da Mulher!!

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