domingo, 20 de fevereiro de 2011

ENTREVISTA – JORNAL O LINCE

            Quando e como se deu sua iniciação à literatura?
Os primeiros contatos com a literatura, como leitora, ainda na infância, me revelaram o prazer que os textos proporcionam. Desde então, a literatura faz parte do meu cotidiano. Em todos os períodos da minha vida estive lendo. E me encantando com narrativas e modos de escrevê-las.
Quais suas principais influências literárias? O que absorveu delas?
Os autores que conduzem o leitor a um mergulho nas histórias sempre me fascinaram. Ainda antes de qualquer debate sobre o valor literário de uma obra, creio ser necessário observar se ela realmente fisga o leitor. É isso que faz, inicialmente, a qualidade da obra literária.
Sempre admirei Érico Veríssimo por sua escrita clara, sua capacidade de levar o leitor ao local dos fatos narrados. Ao descobrir Érico Veríssimo, na adolescência, não pude evitar: devorei toda a sua obra.
Leitora mais amadurecida, encantei-me pelos autores que subvertem as normas da linguagem. Dentre eles, o nosso Guimarães Rosa, o lusitano José Saramago e o moçambicano Mia Couto. São autores que, além da preocupação em contar boas histórias, trabalham para que a forma seja adequada ao conteúdo. Eles rompem padrões e, por isso, são mestres.
Não sei se posso dizer que absorvi algo da literatura. Posso, sim, dizer que fui, durante toda a vida, absorvida por ela.
"Menina dos Olhos" é um livro para quem? De onde vem o título?
“Menina dos Olhos” é um livro para pessoas de diferentes idades. Traz, com sutileza, descrição emotiva de situações pelas quais a menina passa e que vão abrindo brechas na infância para a sua entrada no mundo dos adultos. É, de certa forma, a história do desencanto, necessário para que nos tornemos gente grande. "Menina dos Olhos" deixa para o leitor a tarefa de adentrar um universo sinestésico, feito de frases curtas, de imagens, de mistura entre pensamentos e diálogos.
O título vem da vontade de que o leitor se sinta no lugar da menina, que visualize o mundo à sua volta, que seja ele a sua pupila, a menina-do-olho da menina.
O que o leitor encontrará no livro?
Ao leitor cabe sempre o papel final e mais importante: recriar o texto. O que ele irá encontrar dependerá de sua história de vida, de seu contexto histórico e social, de suas experiências na própria infância e na leitura de outros textos, similares ou diversos.
Hipoteticamente, o leitor poderá encontrar a si mesmo, a sua infância e a infância das pessoas que ama. Gostaria que o leitor encontrasse o prazer em estar, por algumas horas, imerso nas histórias, descansando do mundo, para voltar a ele, quem sabe?- renovado.
Seu livro trata de temas ligados à infância. É uma autobiografia?
A linha que divide a ficção da não-ficção é muito tênue. Mesmo que queiramos escrever sobre fatos concretos, nossa memória, nossa visão de mundo nos trai, e acabamos – ainda bem! – recorrendo à ficção. Em “Menina dos Olhos” há muito da menina que fui.
Há um propósito pedagógico quando você traz ao leitor o universo da meninice?
Tenho muitas dúvidas sobre a necessidade de que a literatura assuma propósitos pedagógicos, de que esteja a serviço de alguma causa. A arte, de maneira geral, e a literatura, especialmente, poderiam se concentrar no propósito de auxiliar as pessoas a adentrar outros universos e vislumbrar novas possibilidades de vida.
Sem intencionalidade enquanto escrevia, observo, na leitura dos contos de “Menina dos Olhos”, a delicada relação entre a criança e o mundo adulto. Talvez possa servir para refletirmos sobre a forma como as crianças interpretam nossos discursos e gestos e nos mostre que precisamos, para educá-las, muito mais ouvi-las que falar com elas. Por certo, outros leitores encontrarão nos textos outros propósitos pedagógicos, principalmente se forem também educadores.  
Quem é Eliana Maciel enquanto escritora?
Não sinto em mim a existência de uma personalidade paralela de escritora. Sou, ao         escrever,    muito parecida com o que sou como mulher, mãe, profissional, filha, irmã, cidadã: sensível e observadora, alegre quase sempre, intensa nas atividades que assumo, ciente das possibilidades e das limitações do nosso tempo.
Lançar o primeiro livro agora e não antes. Por quê?
Talvez agora, com a maturidade, sinta-me com mais coragem para me revelar às pessoas. Talvez tenha adquirido, junto com a visão que começa a perder a capacidade de enxergar detalhes, a sensibilidade de buscar o que é essencial. A família é essencial. A infância também. A escrita, a leitura. Os amigos. Mas, o mais certo mesmo é que chegou o momento. Por que não depois?
Ter sua primeira sessão de autógrafos na 21a. Bienal Internacional do Livro de São Paulo. Como foi a experiência?
Quando a Editora Scortecci me acenou com a possibilidade de lançar o livro na Bienal do Livro de São Paulo, aceitei de pronto. Sob diferentes ângulos, foi uma ótima experiência.  Imaginava que lançar um livro em São Paulo, ainda mais na Bienal, fosse o fim de um longo caminho a percorrer. Ao contrário, tive a oportunidade de começar dali. Foi uma experiência marcante estar entre autores consagrados da literatura brasileira e de outros países. A Bienal é uma prova de que a literatura vive e de que nossos jovens estão lendo.
Superando todas as minhas expectativas – e até as da Editora - tive um bom público. Pude contar com a presença amorosa de familiares e amigos que percorreram muitos quilômetros para compartilhar da minha alegria. Recebi dessas pessoas um presente inestimável.
Daqui para frente, como escritora, há planos?
Sim, há planos. Estou em fase de conclusão de um trabalho sobre leitura que, provavelmente, se tornará um livro de não-ficção. Há também um projeto iniciado sobre um romance, contando a bela história de uma imigrante austríaca no início do século passado. Há também algumas crônicas. Há também...

2 comentários:

  1. Adorei !
    Estou querendo ir a São Paulo em julho ...Podemos marcar um Café Terapêutico Literário....

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  2. Olá Eliana!

    Gostei muito de sua entrevista. Ela revela o poder humanizador da arte, inclusive da literatura.

    Beijos.

    Andréia

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