quinta-feira, 25 de novembro de 2010

CAIXA DE UVA


Escrevi há alguns anos: sobre uvas, Natal e saudade. Para vocês.



CAIXA DE UVA

                   Era dezembro. As lojas abriam à noite, as ruas ganhavam decoração natalina e os cartões eram enviados pelo correio. Havia no ar aquele “clima de Natal”.
                   Mas, para nós, o sinal de que o Natal se aproximava era quando ele chegava com a caixa de uva. Ouvíamos seus passos lentos e firmes na escada e ele aparecia: sorriso no rosto, segurava a grande caixa como se fosse um filho querido.
                   Rapidamente, nos desfazíamos da madeira fina que prendia os vigorosos frutos e passávamos a lavar os cachos, já com o sabor das uvas nos lábios. A partir dali, a festa eram as uvas. Era uva no café da manhã, na sobremesa, no meio da tarde, em frente à tevê, na ceia. Esse, então, era o melhor momento: em volta da mesa, degustando as uvas, compartilhávamos os acontecimentos do dia e da vida. Assim, ele oferecia a nós a fruta – fruto do seu intenso trabalho diário, a doce recompensa pelos dias em que não podíamos tê-lo conosco, nem mesmo nos almoços de domingo e nas tardes de feriado.
                   Naqueles dias, meu pai era o Provedor: ofertava pelo prazer de ver o outro se satisfazer. Simples: ninguém sabia o quanto lhe custava a caixa de uva. Só recebíamos e saboreávamos, como pássaros-filhotes no ninho. Meu pai era também o Papai Noel: caixa no lugar do saco, chinelos gastos em vez de boas, doces frutos natalinos substituindo presentes comercialmente veiculados.
                   Já recebi outras caixas de uva, ofertadas também de boa vontade. Já comprei caixas e cachos, escolhidos a dedo ou a olho. Mas, nenhuma uva é tão saborosa quanto aquelas, saudosas, dos Natais em que meu pai estava entre nós.




Eliana Maciel

2 comentários:

  1. Eliana,
    como sempre, belos textos!

    Também considero as uvas bem representativas do clima natalino. Doces uvas...nos remetem ao vinho, bebida tomada para celebrar momentos felizes, inesquecíveis(ou que deveriam ser, rsrsrs).
    Sabe, particularmente, tem outro alimento -este salgado- que também me faz lembrar o Natal: "AZEITONAS". Incrível o fato de que, em qualquer que seja a época do ano que eu comê-las... sempre lembrarei do natal!(vai entender a memória olfativa...sensorial?!)
    Bjo,
    Andréia

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  2. Eliana
    (Irma)

    Nao postei nada ainda por receio de chorar...muito!!!
    Nossos momentos de vida passados foram todos vividos, na infancia e adolescencia (tivemos??)com muita intensidade!!!Tudo era mais sentido do que realmente falado.
    As uvas de agora nao tem mais o mesmo sabor daquelas de outrora, mas nos remetem para aqueles momentos de muita alegria....descontracao....Da para ouvir nossas risadas....e como riamos....de tudo!!
    Risos de pura felicidade, descompromisso,esperanca....
    Crescemos, sofremos, amadurecemos, mas a alegria impera sobre qualquer resquicio de tristeza!

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