domingo, 7 de agosto de 2011

A VIDA É TÃO CURTA... CURTA...

Terminei de ler um belo – e triste – livro: “Vita Brevis”, do Jostein Gaarder. Trata-se de uma carta, supostamente escrita por Flória Emília, ex-companheira de Aurel, Aurélio Agostinho, bispo da Igreja Católica que se tornaria Santo Agostinho. Eles viveram juntos por 12 anos e tiveram um filho, Adeodato, cujo nome significa presente de Deus.
Flória, após ser abandonada por Aurel e de ter seu filho arrancado de sua companhia, dedicou-se a estudar Filosofia e Teologia a fim de compreender os motivos que levaram Aurel a deixá-la. A carta é um profundo desabafo, o lamento de uma mulher abandonada e traída, não por outra mulher, mas pelo mundo das ideias. Flória torna-se sábia o bastante para debater as ideias de Agostinho em suas famosas “Confissões”. E, mais que isso, as palavras de Flória são um diálogo entre o mundo sensível, palpável, e o mundo filosófico; entre o mundo dos sentidos e a perspectiva de que, longe dele, a alma estará salva (segundo Agostinho). Flória torna-se filósofa, mas, acima, antes e além de tudo, é uma mulher, que vibra com as lembranças do amor e do prazer advindos de sua relação com Aurel. É inevitável durante a leitura adotarmos o ponto-de-vista de Flória e até sentirmos certa raiva de Aurel.  
Lembrei-me do livro hoje pela manhã, quando perguntei ao meu amor o que poderia significar o sonho que tive: uma pequena ilha suavemente desaparecendo, coberta pelo mar. Ele  respondeu: “significa um sonho em que uma pequena ilha suavemente desaparece, coberta pelo mar. O que mais poderia significar?”  Satisfeito, puxou-me para junto de si e beijou meus cabelos. E não houve sonho, ilha, mar ou livro que sobrevivessem àquele momento.
 Pobre Aurel...  
Leiam um trecho:
“(...) Então chegamos à velha praça-forte de Florentia, junto ao rio Arno. És capaz de lembrar como ficamos ali, apontando para as montanhas nevadas que se revelaram subitamente através das árvores? Lembras apenas idéias, Aurel, não podes tentar relembrar algumas experiências sensíveis reais também? Logo atravessamos o rio, e foi enquanto estávamos na ponte que te aproximaste de mim por trás. Conversavas com alguns homens, mas de repente estavas ao meu lado. Senti tua mão em meu ombro e então puxaste-me gentilmente para perto de ti e sussurraste: “ A vida é tão curta, Flória!
Então pegaste meu pulso e seguraste-o apertado – como se tivesses decidido que se tratava de um momento que não querias esquecer. Foi quando perguntaste se podias cheirar meus cabelos. E assim o fizeste. Senti tua respiração em meu pescoço enquanto desembaraçavas meus longos cabelos e aspiravas seu perfume. Era como se quisesses sugar-me inteira para dentro de ti como se meu lar fosse dentro de ti. Parecia que querias expressar algo sobre como eu sempre te pertenceria, porque nossas almas se tinham fundido.”
“A vida é tão curta...”

3 comentários:

  1. Lili, vc está muita bonita na foto! Uma ilha...desaparecendo? Concordo. É apenas uma ilha desaparecendo...coisas do nosso inconsciente desgovernado...rastreamento randômico de imagens que não organizamos, nem racionalizamos...ah, o beijo nos cabelos! "mundo sensível, palpável...o mundo dos sentidos e a perspectiva de que, longe dele, a alma estará salva".
    bjs
    Stela

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  2. Bom dia!
    Adorei ler hj. no seu blog o texto do livro mencionado!
    Identifiquei-me com certas situaçóes na qual temos certeza de que " a vida é muito curta" mesmo...
    Mas...quero ler este livro!!!
    Tenha um bom dia.
    Bjs.

    Elena Ferraz

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  3. Oh!!! Lica
    Como me senti honrada por estar com você no Blog.Muito obrigada pelo carinho.Olho seu Blog todas as segundas.
    Saudade!
    Grande Beijo.

    Márcia

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