domingo, 14 de agosto de 2011

Pai Saudade

Fim de domingo. Domindo dos pais. Data estranha para quem já se despediu do seu pai, há muitos anos. Fica-se entre a saudade e a alegria de ver os outros comemorando... Entre a tristeza assentada como chão de terra depois de molhada e a vontade eterna de abraçar o homem que se foi...
No silêncio de minha casa, busquei alguns escritos antigos. Dentre deles, encontrei um texto singelo, que escrevi em 1988, aos 24 anos, poucos dias antes de me casar. Relata, com a parcialidade de uma filha amorosa, um momento dos anos compartilhados com meu pai. Vejam:
MEDOS RURAIS
                               - Estou falante hoje! Avisa meu pai já nas primeiras horas da manhã. E passa o dia a conversar com quem encontra e, quando não encontra, deve – suposição minha – conversar consigo mesmo.  Nesses dias de falatório, as conversas preferidas são as lembranças do passado  de sua família no campo, vivendo as belezas e os problemas de cultivar a terra.
                               Hoje, principalmente, meu pai falou sobre as “histórias de assombração”, que provocam muitos pesadelos e inseguranças, mas trazem também muita atração e excitação.
                               Ouço-o falar sobre vários episódios que aconteceram com ele próprio e com outros. Conta casos como o da mão branca que apareceu na soleira da porta, da pedrinha que rolava no telhado, do armário cuja porta se ouvia abrir e deixar cair toda a louça no chão (quando verificado, estava tudo intacto e o armário de portas fechadas), com alegria e sentimento de partilha.
                               Já ouvi essas histórias umas oitenta vezes, mas nunca me canso, pois, a cada vez, meu pai acrescenta um detalhe que modifica e ilustra a história. Mais que o enredo dos “causos”, a voz do meu pai é contagiante. Ele vibra com cada palavra e nos leva ao momento dos acontecimentos.
                            Nosso passado é apenas lembrado; somos a geração que ouviu contar e não viveu. A decadência da sociedade rural levou-nos para a cidade, onde os medos são outros, mais reais e menos criativos que os rurais.
                               Que pena! Nunca ouvi meu pai contar suas histórias sentada num fogão “de” lenha ou num terreiro de café. Pai, você é um contador de histórias maravilhoso, pois nos remete ao cheiro do mato, do café, da fogueira e, principalmente, ao fundo do seu coração.
Eliana Maciel
Tomara que o domingo tenha sido feliz para todos os pais – onde quer que eles estejam.
Sugiro o link: http://www.youtube.com/watch?v=TwVU_7SSdBI   , em que o talentoso sambista Diogo Nogueira faz uma homenagem emocionante ao pai, Paulinho Nogueira. Inesquecível!

Um comentário:

  1. Eliana...lembro um olhar,uma beira de rio, um perfume - lavanda inglesa. Lembro um sorriso, uma mão forte, apertando meus dedos. Segurança imensa e a sensação que podemos tudo com quem nos acompanha. Saudade e alegria de ver em nós traços de quem amamos.

    bjs
    Stela

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