No final de semana passado, fui para Ubatuba. A idéia era olhar o mar azul de inverno, caminhar na areia, saborear os frutos próprios do litoral e, no sábado, ir até Paraty para curtir a FLIP.
Para quem conhece pouco, a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) acontece há 9 anos e tem como um dos principais objetivos, além, obviamente, de divulgar a produção literária nacional e internacional, promover a interação entre autores e leitores... todos percorrendo as pedras da bela Paraty, abraçados pelos sobrados e acarinhados pelo sol morno de julho. Estive presente nas FLIPs de 2005, 2007, 2008 e 2009 e me encantei com a Festa: efervescência cultural, literária em particular, amálgama de pensamentos dos autores com a simplicidade da cidadezinha beira-mar. De repente, você se dá conta de que a pessoa sentada ao seu lado, naquele restaurante singelo, é um dos seus autores favoritos. Ou um jornalista conhecidíssimo. Conversei com Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony... Assisti a palestras e mesas-redondas maravilhosas, com pessoas do porte do Ariano Suassuna. Vi Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, perseguido e jurado de morte por todo o Islã, dançando forró numa tenda próxima à Igreja de Santa Rita. Assim é a FLIP. Assim é?
Pois bem, confesso que fiquei decepcionada com a Festa este ano. Espantei-me ao ver tanta, tanta gente. Não havia possibilidade de tirar uma foto sem que houvesse pessoas à frente, ao lado, atrás... nos pequenos restaurantes, filas à porta. Fila na sorveteria. A livraria abarrotada. Ainda pude ver o jornalista Edney Silvestre, autor de “Se eu fechar os olhos agora...”, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 2010. Quase corri para comprar o livro e pedir seu autógrafo... não havia espaço para correr... nem tempo para ficar na enorme fila de autógrafos. Nas primeiras FLIPs, a tenda do telão mostrava as imagens e áudios de todas as palestras. Podíamos ver e ouvir os autores até mesmo sem ingressos, sentados nos degraus ou bancos da praça. Não há mais essa possibilidade. Saí de lá desanimada, antes da principal atração da FLIP 2011: João Ubaldo Ribeiro.
A Festa se popularizou, ganhou adeptos. É muito bom perceber que a FLIP vai ao encontro do novo público leitor brasileiro. Divulgar a leitura de todas as maneiras possíveis é essencial. Por outro lado (ou pelo mesmo), eu estive na FLIP este ano de passagem, sem me ater às programações, e isso pode ter causado o estranhamento. Mas, claro é que a sensível Festa se tornou um megaevento. Tornou-se muito maior que seu cenário: a cidade de Paraty. Pareceu-me um convidado que, um tanto embriagado, faz as honras da casa, sobe nas cadeiras e discursa em nome do anfitrião.
A pergunta é: mudei eu, ou mudou a FLIP?
Eliana Maciel
P.S.: Boas lembranças da viagem: a paisagem do mirante entre Praia Grande e Toninhas, a deliciosa Pizzaria São Paulo, o relaxante sol de julho, a companhia do amado, nas palavras da música interpretada por Caetano Veloso: “...andar de mão dada na beira da praia por este momento eu sempre esperei...”
Lili, claro que tudo muda...tanto nós quanto os contextos. Fica claro que objetivos iniciais da Flip transformaram-se...entram os interesses que movem o mundo e destroem sonhos...mas tenha certeza que a sensação do caminhar de mãos dadas com o amado...é impermeável...vale a brisa das tardes mornas de julho...um brilho especial do reflexo do mar...tranquilo...sem a ansiedade da urgência do verão.
ResponderExcluirbjs
Stela