domingo, 17 de julho de 2011

MAR PARA MUITOS PEIXES

No final de semana passado, fui para Ubatuba. A idéia era olhar o mar azul de inverno, caminhar na areia, saborear os frutos próprios do litoral e, no sábado, ir até Paraty para curtir a FLIP.
Para quem conhece pouco, a FLIP (Festa Literária Internacional de Paraty) acontece há 9 anos e tem como um dos principais objetivos, além, obviamente, de divulgar a produção literária nacional e internacional, promover a interação entre autores e leitores... todos percorrendo as pedras da bela Paraty, abraçados pelos sobrados e acarinhados pelo sol morno de julho. Estive presente nas FLIPs de 2005, 2007, 2008 e 2009 e me encantei com a Festa: efervescência cultural, literária em particular, amálgama de pensamentos dos autores com a simplicidade da cidadezinha beira-mar. De repente, você se dá conta de que a pessoa sentada ao seu lado, naquele restaurante singelo, é um dos seus autores favoritos. Ou um jornalista conhecidíssimo. Conversei com Marina Colasanti, Affonso Romano de Sant’Anna, Arnaldo Jabor, Carlos Heitor Cony... Assisti a palestras e mesas-redondas maravilhosas, com pessoas do porte do Ariano Suassuna. Vi Salman Rushdie, autor de Versos Satânicos, perseguido e jurado de morte por todo o Islã, dançando forró numa tenda próxima à Igreja de Santa Rita. Assim é a FLIP. Assim é?
Pois bem, confesso que fiquei decepcionada com a Festa este ano. Espantei-me ao ver tanta, tanta gente. Não havia possibilidade de tirar uma foto sem que houvesse pessoas à frente, ao lado, atrás... nos pequenos restaurantes, filas à porta. Fila na sorveteria. A livraria abarrotada. Ainda pude ver o jornalista Edney Silvestre, autor de “Se eu fechar os olhos agora...”, vencedor do Prêmio Jabuti de Melhor Romance em 2010. Quase corri para comprar o livro e pedir seu autógrafo... não havia espaço para correr... nem tempo para ficar na enorme fila de autógrafos. Nas primeiras FLIPs, a tenda do telão mostrava as imagens e áudios de todas as palestras. Podíamos ver e ouvir os autores até mesmo sem ingressos, sentados nos degraus ou bancos da praça. Não há mais essa possibilidade. Saí de lá desanimada, antes da principal atração da FLIP 2011: João Ubaldo Ribeiro.
A Festa se popularizou, ganhou adeptos. É muito bom perceber que a FLIP vai ao encontro do novo público leitor brasileiro. Divulgar a leitura de todas as maneiras possíveis é essencial. Por outro lado (ou pelo mesmo), eu estive na FLIP este ano de passagem, sem me ater às programações, e isso pode ter causado o estranhamento. Mas, claro é que a sensível Festa se tornou um megaevento. Tornou-se muito maior que seu cenário: a cidade de Paraty. Pareceu-me um convidado que, um tanto embriagado, faz as honras da casa,  sobe nas cadeiras e discursa em nome do anfitrião.
A pergunta é: mudei eu, ou mudou a FLIP?
Eliana Maciel
P.S.: Boas lembranças da viagem: a paisagem do mirante entre Praia Grande e Toninhas, a deliciosa Pizzaria São Paulo, o relaxante sol de julho, a companhia do amado, nas palavras da música interpretada por Caetano Veloso: “...andar de mão dada na beira da praia por este momento eu sempre esperei...”

Um comentário:

  1. Lili, claro que tudo muda...tanto nós quanto os contextos. Fica claro que objetivos iniciais da Flip transformaram-se...entram os interesses que movem o mundo e destroem sonhos...mas tenha certeza que a sensação do caminhar de mãos dadas com o amado...é impermeável...vale a brisa das tardes mornas de julho...um brilho especial do reflexo do mar...tranquilo...sem a ansiedade da urgência do verão.
    bjs
    Stela

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