sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

PASSAGEM

Costumamos, nessa época, fazer  planos e tecer listas de desejos para o Novo Ano. Proponho, ainda, um exercício de agradecimento ao ano que passou. Como se fôssemos fechar as portas para que outras se abram, solenes e amplas.
Proponho a gratidão, sobretudo, à saúde, ao tempo e ao trabalho.
À saúde: que nos permite, agora, ler ou ouvir esse texto.  Por podermos sentir o aroma que nos circunda, a textura do mouse sob nossa mão, as vozes dos familiares, o barulho de folhas de árvore ou o silêncio doce de uma noite de verão. Se estamos aqui, é sinal de que tivemos saúde e, se, por algum momento, faltou, não foi tão grave a ponto de nos tirar da vida e da convivência com os outros. Nosso compromisso é cuidar da saúde, em 2011 e sempre.
Ao tempo: que, se por um lado, clareia nossos cabelos e sulca nossas faces, nos traz também a compreensão, o perdão e a paciência. Separa, para nós, mesmo que lentamente, o joio do trigo, as aparências da essência. Que em 2011 valorizemos o tempo como nosso aliado.
Ao trabalho: que alimentou nossos filhos, nos permitiu utilizar nossos talentos para servir aos outros, promoveu relacionamentos e aprendizados, ofereceu sentido aos dias turbulentos. Pode ser que nosso trabalho não nos permita alçar grande voos, que somente possibilite os pequenos passos... Que compreendamos, então, que, na verdade, são os pequenos e constantes passos que nos levam  longe. 
Um abraço agradecido a todos vocês, que me acompanham, me confortam, me sustentam. Meus amigos: um Ano Novo muito, muito feliz.
Eliana Maciel
Há uma mensagem em slides para vocês, com o título Para o Ano Novo. É só clicar sobre a imagem e depois no ícone "Tela inteira". Espero que gostem.

sábado, 25 de dezembro de 2010


Estes dois rapazes que vocês veem aqui (e que muitos conhecem pessoalmente) são meus filhos, Ary e Léo. Na verdade, eles têm o mesmo nome. Ary significa “leão”, em hebraico e Léo também significa “leão”, em latim. Meus “meninos”, como costumo dizer, são meus grandes amigos: dão risadas das minhas maluquices, apóiam minhas iniciativas, me dão carinhosos puxões de orelhas quando me excedo. Compartilhamos espaços e tempos nessa existência. Com carinho, lealdade e alegria. Apuramo-nos. Não são meus companheiros de caminhada. São o próprio caminho que percorro. Não vou postar aqui nenhum texto deles (embora escrevam muito bem); quero revelar que o texto que eles, sem nem imaginar, escrevem e revisam diariamente sou eu mesma. Se a alguém é agradável a forma como escrevo, falo, trabalho, convivo com as pessoas, pode acreditar que é o resultado da lapidação que meus filhos fazem da matéria bruta que um dia se tornou mãe. Sou o texto que eles passam a limpo todos os dias, a cada nascer do sol. A eles, meus agradecimentos. A vocês, um poema que escrevi, quando ainda eram bem pequenos.
ARY E LÉO

            Do carrossel – carro do céu –
            Meus filhos – Ary e Léo –
            Acenam para mim

            Sabores de mel
            Odores de caqui
            Meus filhos - meu céu –
            Léo e Ary

            De onde terão vindo?
            Por que escolheram a mim?
            Meus filhos – doces respostas
            Em bocas de cetim

            No carrossel
            Gira Léo, gira Ary
            Seres de papel
            em peles de marfim...

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

'Vó' Lolô

A linda mulher da foto ao lado é minha avó, mãe da minha mãe. Dolores era o seu nome; o apelido: Lolô. Alguém conhece um apelido mais próprio para uma avó de pele rosada e cabelos de algodão? Uma avó que gostava de receber visitas e que tirava todos as espinhas do peixe para que comêssemos sem riscos?
Hoje acordei pensando em minha avó. Talvez porque ouvi o amigo Walter Tassi contar de sua avó italiana Vicentina. Uma mulher forte, que levava nos ombros a força do trabalho e no coração a união da família. Assim também era minha avó. 

Quando a 'Vó' Lolô faleceu, escrevi o poema abaixo, que compartilho com vocês.


ADEUS
            Descansa em paz, minha avó
            Descansa teu pesado corpo
            Nesse chão que outrora
            bebeu teu suor
            e sentiu o calor de teus pés

            Descansa tua exausta matéria
            Nessa terra que já alimentou teus filhos
            E se alimentou de teus pais
            Descansa, minha avó...

            Descansa de teus trabalhos todos
            Nesses ares que já ouviram
            Teu riso de criança
            E teu choro de mulher

            Deita-te e dorme, minha avó
            Que esses ventos guardem tua carne
            E soprem para nós tua força antiga

            Deita-te e dorme, minha avó
            Que essas colinas cultivem tua memória
            E se sustentem de teu viço

           Minha avó, descansa tua casca
            Nesses campos da terra
Pois tua alma, menina liberta,
Corre e brinca nos campos do Senhor...





ESTOU LENDO...

Terminei de ler “Singularidades de uma rapariga loura”, do excelente Eça de Queirós. É um livro composto de somente três contos. O primeiro dá título ao livro, o segundo chama-se “S.Cristóvão” (o mais longo) e o último intitula-se “O Tesouro”. Belos contos, os três. Gostei mais do “S. Cristóvão” que é, acredito, uma versão da vida do santo que a sabedoria popular consagrou como protetor dos viajantes. O que chama atenção é a qualidade dos textos, o que é comum no autor português. Nas palavras do prefaciador, Herberto Sales, os contos: “constituem muito mais do que obras-primas: são jóias de altíssimo quilate e patrimônios da língua portuguesa.”  
O livro chegou às minhas mãos por intermédio do meu filho Ary: é uma das obras solicitadas para leitura no vestibular da UFJF, que ele irá prestar nos próximos dias.
Aproveito para lembrar que temos à nossa disposição a biblioteca do Campus da FEG que, ao contrário do que muitos imaginam, não possui em seu acervo somente obras específicas relacionadas às Ciências Exatas. Temos a facilidade de, também, solicitar  empréstimo de livros de qualquer Campus da UNESP  e de outra Universidade Pública. Além de contarmos com a simpatia no atendimento de minha irmã, Rosana Maciel, constantemente homenageada pelos alunos por sua alegria, competência e presteza. Confiram: http://www.feg.unesp.br/sbd/index_sbd.php

E você, o que está lendo?

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

NO BAZAR

Então, sábado fomos ao Bazar de Natal. À parte o calor, foi um dia maravilhoso. Cheguei com minhas lindas irmãs por volta das 13h30, para o almoço. Depois, estivemos um longo tempo sob as jabuticabeiras, autografando livros, conhecendo pessoas, conversando com as  conhecidas. Quando me preparava para ir embora, no final da tarde, chegaram meus amigos Walter Addeo (que prefaciou "Menina dos Olhos"), e o casal Luiz Antonio e Roxana.  Nós, mais minha irmã Luciana, ficamos bebericando e conversando até o anoitecer, sentindo (ufa!) a brisa de uma chuva que, por fim, nem caiu. Já noite, eu, Walter e Luciana voltamos ao quintal, onde, sentados nos confortáveis bancos de madeira, conversamos sobre família, realizações, amizades, literatura, cinema, amor. Lembrei-me da música: "um dia feliz, às vezes é muito raro..."
Vejam mais fotos no site do webavista: http://www.webavista.com.br/10/?p=3830


Rosana e Luciana Maciel, minhas lindas irmãs

Walter Addeo


sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

JOÃO DAS LETRAS


Este menino é o João. João Pires. Foi meu aluno por dois anos e agora está no Colégio Técnico da FEG. Um aluno daqueles que já vêm prontos. Mais nos ensinam que aprendem... gentileza, alegria, harmonia, amizade. Ótimo leitor, ótimo escritor. E só tem 15 anos (ou dezesseis). Leiam abaixo a crítica que fez ao "Menina dos Olhos". Depois, a Autobiografia, que construiu a partir da minha e que, facilmente, a superou. Os pupilos estão aí é para isso mesmo: superar os mestres. Parabéns, João!

""Menina dos Olhos" é um livro cativante. Deixo, aqui, meus sinceros parabéns por tamanha beleza de linguagem. As frases telegráficas, ritmadas, curtas, porém carregadas de significado conferiram ao livro um estilo marcante ao tratar com de forma extremamente simples e trivial de um tema complexo que pede, contudo, a valorização do necessário, do simples e do adequado, sem excessos, sem exibicionismo. Os sentimentos estavam tão à flor-da-pele, que as histórias de uma menina que se torna mulher ficaram perfeitamente reais e próximas da realidade de toda uma geração que remonta ao passado de Guaratinguetá: aparecem elementos dessa geração, como o edifício Rony, a catedral, as esquinas do centro, os botecos. Como está relatado em seu próprio blog, Eliana, as palavras do livro vêm justamente relembrar sons, aromas e vivências de uma infância que é próxima e longínqua, mas trazida com tanta riqueza de detalhes, que se torna quase palpável. O ponto que eu mais gostei foi o enredo que permitiu ao leitor perceber na personagem seu desenvolvimento psicológico estreitamente ligado aos acontecimentos circundantes, de modo que se torna perceptível o adolescer na tamanha complexidade que esse termo exige. Complexidade esta tratada com toda a delicadeza de uma menina na gana [ou não] de crescer.
 Parabéns pela história, e espero ansiosamente a já amadurecida menina dos olhos."
João Pires

DAS AUTOBIOGRAFIAS - JOÃO PIRES


Nasci numa cidade que cresce em média 16% ao ano. Eu já caí de bicicleta no Clube dos 500. Eu já desejei ser uma mosquinha. Eu já conheci os hippies de Maromba. Eu já fui de trem para Campos do Jordão. Eu já comi aipim na praia do Jabaquara. Eu já tive desejo de nunca abandonar o centro de Paraty. Eu já tomei o sorvete do Italiano. Eu já me apaixonei pela minha melhor amiga. Duas vezes. Eu já estudei por prazer. Eu já perdoei por vontade. Eu já fiquei entre olhos secos e molhados. Eu já corri na chuva em Ubatuba. Eu já passei horas numa livraria. Eu já escorreguei numa cachoeira. Eu já comi marshmallow com os amigos, contando histórias de terror em volta de uma fogueira. Eu já descobri que Paulo Coelho é um plagiador. Eu já fiz trilha na mata. Eu já descobri que sou um Bento Santiago. Eu já gritei desesperadamente na rua. Eu já fiz manha pra não ir à escola. Eu já desejei nunca sair de uma escola. Eu já cantei música em inglês errado. Eu já fiquei lendo por horas e horas. Eu já pintei quadros com a raiva de Guernica. Eu já fiz confissões chorosas por entre os lençóis da infância. Eu já me revoltei com um boneco do tipo João bobo. Eu já fui infeliz e sabia. Eu já passei quatro anos em um buraco tricolor. Eu já nadei na praia à noite. Eu já compreendi a distinção entre vida e morte. Eu já fiquei acordado para ver um eclipse imaginário. Eu já assisti desenho animado de manhã. Eu já derrubei uma árvore de natal. Eu já abracei uma árvore para ganhar energia. Eu já fui dormir e pensei no fim dos dias. Eu já entendi a região fronteiriça de Shakespeare, aquela da qual nenhum viajante jamais retornou. Eu já fui dormir na cama dos meus pais por causa de um pesadelo. Eu já acordei pela manhã e fiquei na cama pensando na vida. Eu já encharquei meu travesseiro de lágrimas necessárias. Eu já me senti sozinho no meio de uma multidão. Eu já me senti o melhor do mundo. Eu já me senti o pior do mundo. Eu já fui pra escanteio. Eu já estive na berlinda. Eu já andei muito de bicicleta pela Terra das Garças Brancas. Eu já cheguei em casa de madrugada. Eu já comi pipoca na praça. Eu já fiquei feliz quando dei tchau pro carro de trás. Eu já me perdi no volante da vida. Eu já sentei no colo do Papai Noel. Eu já tentei escrever um livro. Eu já pensei que tinha amigos quando não tinha. Eu já pensei que não tinha amigos quando na verdade eu tinha. Eu já almocei na Tia Alzira. Eu já me satisfiz com o amor pelas palavras. Eu já olhei pra lua e não consegui definir o que significa amar. Eu já li Guimarães Rosa e não entendi nada. Eu já li Guimarães Rosa e entendi tudo. Eu já andei a cavalo por aí. Eu já fiz piquenique no campus da UNESP. Eu já gravei uma novela. Eu já visitei asilos e creches. Eu já fiz trabalho voluntário. Eu já acendi uma vela só pra apagar depois. Eu já alimentei um amor só pra depois esquecê-lo. Eu já aprendi que sonhos são como a Física para Einstein. Eu já aprendi que dar risada é fácil. Eu já aprendi que arrancar lágrimas também é fácil. Eu já ri por bobeira. Eu já chorei por besteira. Eu já peguei uma rosa da roseira e dei pra minha mãe. Eu já assoprei dente-de-leão e quis sair voando ao vento junto com suas pétalas.

                                                 João Paula Santos Pires.