terça-feira, 15 de novembro de 2011

CORUJICE EXPLÍCITA

Vão falar que sou mãe-coruja... pura verdade. Mas, vou publicar aqui dois textos, escritos pelos meus filhos. O primeiro, Asterisco, de autoria do Ary, revela uma maturidade que me surpreendeu. O segundo, do Léo, escrito ontem à noite, deixou-me orgulhosa  pela sensibilidade e valores que traz. Espero que apreciem... Com vocês, meus "meninos"...´


ASTERISCO
             Dizem que boas ações fazem nascer uma estrela na testa.
            Sentado no banco de trás, de madeira e solavancos, pensava um soldado verde. Sozinho atrás de um caminhão, olhava para o exterior. Era claro, nítido. Dele tudo se afastava, na medida em que seguia para trás. Ou para frente?
            Pensava e se esforçava, tentava o equilíbrio. Eram buracos tantos na Estrada, e nunca havia de avisarem-se. A menos quando freava, se leve, sutil, delicadamente o Motorista, como quem avisa: Firmeza, filho, esse é grande.
            Os buracos passados, passaram. Depois de um tempo nem se lembra mais. Alguns de lembrança colorem de roxo o soldado verde. Mas até os roxos passam, ao passar. Arnica. E bastante o tem o soldado verde. Assim, de roxo em roxo se faz calejo, e do calejo se faz preparo, arauto da vitória.
            Pensava o soldado verde, nas casas que se iam ficando, singelas, feitas de suor e felicidade. Nas plantas que se esticam por entre as cercas e fugiam da Estrada, demarcando-o. E pensava nos animais pacatos que se iam andando, alguns trotando, outros dormindo, sem perceberem a Estrada nem o destino.
            E, sobretudo pensava nas pessoas, queridos amigos de pouso e repouso, repetidos e reafirmados, descobertos e encobertos. Sentia a saudade já a cutucar no bolso esquerdo, e lhe doía mais ao esbarrar com ela, devido a um buraco qualquer. Carregava-a com uma fissão de tristeza e alegria, como quem carrega uma parte da Estrada.
            Da guerra nem se fala. Nem se cala. Como ia ser quem sabe? Quem sabe já não o é? Talvez só o Motorista, velho de guerra... Era a guerra em alguma parte da Estrada. Reta de infinitos pontos. Curva de infinito raio. Talvez a guerra seja somente permanecer dentro do caminhão, vendo casas ficar plantar esticar arrumar animais tratar, e crianças dormir. E ser levado pelo Motorista. E a Estrada se levar no bolso esquerdo.
            Ninguém mais por isso lutava, e por isso já não percebiam a Estrada. Vagavam sem rumo, reclamando do sol do céu, dos pós das pedras, das costas de tudo ter dado as costas, como se não tivessem dado. Por isso seguia sozinho no banco de trás.
            Pensava e enquanto pensava, ouviu. Outro caminhão, outro soldado verde. O mesmo Motorista.
            E mais um caminhão, mais outro soldado verde.
            E sempre o mesmo Motorista.
            Enfim não estava só. Iam juntos, unidos, como se desde o começo da Estrada estivessem carregando uns aos outros no bolso esquerdo.
            E em comboio seguiam, a poeira que levantam os tingia de Terra, amadurecia-os.
            E puderam ver nos olhos uns dos outros, o reflexo de suas estrelas na testa.
            Considerava no céu, seguindo nesse caminho
                        de estrelas.
Ary Maciel Junqueira Ribeiro – 27/10/2011

"Segura a caneta e solta o cigarro
Acenda ideias e não o isqueiro
Escreva palavras, não devaneios
Mente poeta em corpo saudável
Ganhe tempo com letras, enxote fumaça
...
Que destrói o corpo e não serve pra nada
Se falo o que falo, faço o que digo
O cigarro pode parecer camarada
Mas não passa de um inimigo
Se cada tragada inspirada fosse palavra
Teríamos exorbitante variedade literária
Então todos que fumam se tornariam sábios
E os que já eram sábios, se tornariam sãos,
E vivenciaríamos a tão nova, velha era
De sábios sãos e sóbrios lunáticos.''
Léo Maciel Junqueira Ribeiro - 14/11/2011



LEITURA MÁGICA

Estive ontem passeando em São Paulo. Numa livraria, percorrendo os olhos pelos livros avolumados em estantes e vitrines, chamou-me a atenção um título: "O Ano da Leitura Mágica." A autora: Nina Sankovitch, uma desconhecida para mim. Livro na mão, apreciei sua capa em tom de amarelo suave. No alto, a frase do The New York Times acabou de me convencer: "Uma celebração à leitura." Comprei o livro e, ainda no carro, li a resenha e a vontade era de começar a leitura ali mesmo. À noite, em casa, sob as cobertas que estes dias chuvosos e de gostoso frio resgataram, iniciei a leitura... onze horas, meia-noite... os olhos fechando, a cabeça tombando, o livro escorregando das mãos... pela manhã, mais leitura... é feriado! Muitas páginas depois e o encantamento se multiplica. Nina Sankovitch perde a irmã para o câncer. A fim de redescobrir o significado da vida, lança a si mesma um desafio: ler um livro por dia durante um ano. Sim, um livro por dia! Estabelece rotinas e ritmos domésticos (tem marido e quatro filhos!) e vai lendo e escrevendo resenhas, que publica em seu 'site'. Junto com os comentários leves sobre os livros, vai nos oferecendo reflexões sobre a família, a vida, a morte, o sentido dos dias... ainda não terminei, mas, já senti que vale a pena... Recomendo...