“Havia um grande incêndio no bar do meu pai... labaredas consumiam balcões , portas, mesas e cadeiras. Meu pai carregava minha irmã bebê no colo e me levava pela mão. E ainda tentava apagar o fogo. Não suportou mais... levou as duas filhas para casa, colocou a bebê no berço e disse para a menina mais velha tomar conta da irmã porque ele iria apagar o fogo que ameaçava o local onde trabalhava.”
Após esse sonho significativo, encerrei um longo período da minha vida em que senti ciúme da minha irmã caçula, Luciana. Ciúme por que nasceu dez anos depois de mim e, segundo meu julgamento, havia tirado a atenção de meu pai sobre mim. Vivi com este sentimento infantil por muito tempo.
Há alguns anos, comecei a rever esse sentimento que não me permitia tornar-me amiga da minha irmã. Descobri, na noite em que tive esse sonho, que, na verdade, nenhuma das duas teve a atenção total do nosso pai. Que ele precisava – como todos os pais e mães responsáveis – nos deixar para trabalhar, para lutar pela sobrevivência da família.
Naquele dia, Luciana nasceu para mim. Dei-lhe as boas-vindas e me mostrei completamente feliz por ter uma irmã linda, alegre, sensível, inteligente e, apesar da diferença de idade, com muitas afinidades comigo. E nossa amizade (re)começou. Sinto por ela uma ternura imensa e um orgulho de mãe-irmã-amiga.
Para completar, há algumas semanas ela veio morar no meu prédio, no andar acima do meu. Haja interfone! Subimos e descemos as escadas para conversar, tomar café, almoçar, acompanhar e rir, rir muito... Respeitamos nossos espaços e compartilhamos nossas vidas com muito cuidado e carinho.
Ela é uma psicóloga de muito sucesso. E um texto seu foi publicado no Jornal Notícias desta semana. Um belo texto. É sobre Saudade. Observem: